Geração Z, Descolonização da Cura e Indústria Farmacêutica

Fonte: You Tube                                                                                                                                             

Apesar de várias críticas à geração Z, talvez seja a única que possa ter um papel importante nas mudanças culturais, educacionais e ambientais. Para a melhoria de saúde para todos poderá provocar mudanças no ensino médico, com a descolonização da cura de doenças e ataque à avareza e capitalismo da indústria farmacêutica.

Sabemos do dilema moral e ético das gerações mais velhas devido aos reclamos ferozes e efetivos das gerações mais novas, principalmente da chamada Geração Z, ou seja, os nascidos entre 1996 e 2011. Para alguns é a geração que tem se preocupado com as questões das desigualdades sociais, o capitalismo selvagem, destruição ambiental, justamente por já sentir a possibilidade de não ter um futuro.

Não se pode ter muitas ilusões de que os jovens se transformem em bons, convivendo com os ruins, dotados de comportamento ganancioso, de usura e que exploram a Natureza como recurso, de forma descontrolada para acumular bens e fortalecer poder. É possível que alguns das gerações mais velhas já estejam deitando a cabeça com vergonha.

Se estas forem as preocupações desta geração não se pode deixar de oferecer uma educação e formação adequada e crítica, enfatizando a reflexão, transversalidade e interdisciplinaridade, de modo que se adquira uma base de conhecimento para combater os desiquilíbrios de nosso tempo. Só interesses, vontade ou desejos podem não levar a mudanças.

Só através de uma educação apropriada no ensino básico, fundamental e universitário é possível se desenvolver atitudes de respeito, de preservação ambiental, melhoria dos serviços de saúde, combate às desigualdades, incluindo o racismo, e de reflexão sobre os problemas locais, regionais e globais, propondo soluções para suas causas.

Sabemos que o legado do domínio colonial permeou todos os aspectos da vida e contribuiu para a desigualdade na assistência médica e a geração Z está clamando por justiça social nesta área e várias outras. Já foi dito que as práticas de Educação em Saúde no Brasil vêm de uma tradição autoritária e vertical que se “situa como legado da herança colonial que permanece viva e pujante”.

Sabemos, ainda, da desconexão do ensino médico nas escolas de medicina  e o conhecimento tradicional das plantas medicinais. É até desrespeitoso desprezar este conhecimento. Muitas vezes se vai à farmácia comprar um medicamento, quando uma planta de seu quintal resolve seu problema.

Ainda bem que já existem concepções vinculando saúde, ecologia e economia política com abordagens convergentes da saúde humana, da saúde animal e da saúde dos ecossistemas, a exemplo da Saúde Única (One Health). Além disto, já existem educadores médicos pensando em maneiras de descolonizar a educação e a cura de doenças, formando médicos que possam atender às necessidades complexas de populações diversas.

Infelizmente, para reforçar nosso legado colonial, temos uma indústria farmacêutica avarenta, que nos faz lembrar o que disse o cientista e Prêmio Nobel de Medicina, professor Richard Roberts: capitalismo e cuidados de saúde não se misturam. Para ele, a pesquisa em saúde humana não pode depender apenas de sua lucratividade econômica. O que é bom para os lucros corporativos nem sempre é bom para as pessoas.

Assim sendo, estamos falando de uma indústria que quer servir aos mercados de capitais e se você pensa apenas em lucros pare de se preocupar em servir aos seres humanos, disse o Professor Richard Roberts.

A busca de caminhos apropriados é a chave pedagógica e o desafio didático em todas as formas de educação, não sendo uma surpresa na educação médica, quando emergem as pressões e batalhas com a verdade e os fatos.

A dimensão política na educação médica é institucionalizada na política internacional através de várias agendas e incorporada nos currículos de ciências e educação médica. Assim sendo, um fenômeno que se observa na educação médica é a lacuna entre a estrutura curricular formal e suas práticas, quando o educador neutraliza a dimensão política e determina qual o conhecimento e orientação moral os estudantes devem aprender.

Portanto, repensar a educação e aprendizado médico é desmascarar a dimensão política vigente, re-politizar a educação, de tal modo que seja possível descolonizá-la. Além disto, como já foi dito, é necessária a indigenização do aprendizado, incluindo elementos culturais e conhecimentos e práticas indígenas,

Por fim, se queremos pensar em saúde para todos e de qualidade contando com as gerações que estão aí, talvez a única que podemos depositar alguma esperança - geração Z, que mostra defender um mundo melhor para a humanidade, mesmo sem a possibilidade de ter um futuro.

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