Geração Z, Descolonização da Cura e Indústria Farmacêutica
Apesar de várias críticas à geração Z, talvez seja a única que possa ter um papel importante nas mudanças culturais, educacionais e ambientais. Para a melhoria de saúde para todos poderá provocar mudanças no ensino médico, com a descolonização da cura de doenças e ataque à avareza e capitalismo da indústria farmacêutica.
Sabemos do
dilema moral e ético das gerações mais velhas devido aos reclamos ferozes e
efetivos das gerações mais novas, principalmente da chamada Geração Z, ou seja,
os nascidos entre 1996 e 2011. Para alguns é a geração que tem se preocupado
com as questões das desigualdades sociais, o capitalismo selvagem, destruição
ambiental, justamente por já sentir a possibilidade de não ter um futuro.
Não se pode
ter muitas ilusões de que os jovens se transformem em bons, convivendo com os
ruins, dotados de comportamento ganancioso, de usura e que exploram a Natureza
como recurso, de forma descontrolada para acumular bens e fortalecer poder. É
possível que alguns das gerações mais velhas já estejam deitando a cabeça com
vergonha.
Se estas
forem as preocupações desta geração não se pode deixar de oferecer uma educação
e formação adequada e crítica, enfatizando a reflexão, transversalidade e
interdisciplinaridade, de modo que se adquira uma base de conhecimento para
combater os desiquilíbrios de nosso tempo. Só interesses, vontade ou desejos
podem não levar a mudanças.
Só através
de uma educação apropriada no ensino básico, fundamental e universitário é
possível se desenvolver atitudes de respeito, de preservação ambiental, melhoria
dos serviços de saúde, combate às desigualdades, incluindo o racismo, e de reflexão
sobre os problemas locais, regionais e globais, propondo soluções para suas
causas.
Sabemos que
o legado do domínio colonial permeou todos os aspectos da vida e contribuiu
para a desigualdade na assistência médica e a geração Z está clamando por
justiça social nesta área e várias outras. Já foi dito que as práticas de
Educação em Saúde no Brasil vêm de uma tradição autoritária e vertical que se
“situa como legado da herança colonial que permanece viva e pujante”.
Sabemos,
ainda, da desconexão do ensino médico nas escolas de medicina e o conhecimento tradicional das plantas
medicinais. É até desrespeitoso desprezar este conhecimento. Muitas vezes se
vai à farmácia comprar um medicamento, quando uma planta de seu quintal resolve
seu problema.
Ainda bem
que já existem concepções vinculando saúde, ecologia e economia política com
abordagens convergentes da saúde humana, da saúde animal e da saúde dos
ecossistemas, a exemplo da Saúde Única (One Health). Além disto, já existem
educadores médicos pensando em maneiras de descolonizar a educação e a cura de
doenças, formando médicos que possam atender às necessidades complexas de
populações diversas.
Infelizmente,
para reforçar nosso legado colonial, temos uma indústria farmacêutica avarenta,
que nos faz lembrar o que disse o cientista e Prêmio Nobel de Medicina,
professor Richard Roberts: capitalismo e cuidados de saúde não se misturam. Para
ele, a pesquisa em saúde humana não pode depender apenas de sua lucratividade
econômica. O que é bom para os lucros corporativos nem sempre é bom para as
pessoas.
Assim
sendo, estamos falando de uma indústria que quer servir aos mercados de
capitais e se você pensa apenas em lucros pare de se preocupar em servir aos
seres humanos, disse o Professor Richard Roberts.
A busca de
caminhos apropriados é a chave pedagógica e o desafio didático em todas as
formas de educação, não sendo uma surpresa na educação médica, quando emergem
as pressões e batalhas com a verdade e os fatos.
A dimensão
política na educação médica é institucionalizada na política internacional
através de várias agendas e incorporada nos currículos de ciências e educação
médica. Assim sendo, um fenômeno que se observa na educação médica é a lacuna
entre a estrutura curricular formal e suas práticas, quando o educador
neutraliza a dimensão política e determina qual o conhecimento e orientação
moral os estudantes devem aprender.
Portanto, repensar
a educação e aprendizado médico é desmascarar a dimensão política vigente,
re-politizar a educação, de tal modo que seja possível descolonizá-la. Além disto,
como já foi dito, é necessária a indigenização do aprendizado, incluindo
elementos culturais e conhecimentos e práticas indígenas,
Por fim, se
queremos pensar em saúde para todos e de qualidade contando com as gerações que
estão aí, talvez a única que podemos depositar alguma esperança - geração Z,
que mostra defender um mundo melhor para a humanidade, mesmo sem a
possibilidade de ter um futuro.
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